Semanário
Hoje é domingo
Dia de repouso e reclusão
A vida não faz sentido
Apenas o gemido de domingo
À espera de uma segunda opção
A terça não me interessa
Ela divide opinião
Na quarta sou metade de mim
Quinta é quantidade ímpar
Na sexta vinga a exaltação
No sábado vou à feira comprar quiabo
Não sei que diabo inventou esse semanário!
E no inferno já é feriado!
Pobre domingo
Nem nasceu, já morreu
O domingo é a pausa poética dos desiludidos!
segunda-feira, 17 de dezembro de 2018
quarta-feira, 12 de dezembro de 2018
Eu já ia desistindo de mim sem eira
para só beirar e renascer daqui a duzentos anos,
quando reencontrasse:
o amor não confundido com posse,
a atenção não virada em surto,
e esperança não perdida na alienação.
Mas me reergui em nome dos poucos que:
prezam o amor no contato,
valorizam a visita na bebida,
e iniciam sua caminhada e comunhão de dentro,
e não do comando de outrem.
para só beirar e renascer daqui a duzentos anos,
quando reencontrasse:
o amor não confundido com posse,
a atenção não virada em surto,
e esperança não perdida na alienação.
Mas me reergui em nome dos poucos que:
prezam o amor no contato,
valorizam a visita na bebida,
e iniciam sua caminhada e comunhão de dentro,
e não do comando de outrem.
sábado, 6 de outubro de 2018
domingo, 26 de agosto de 2018
Marcos Agmar de Andrade: A casa de vidro
Marcos Agmar de Andrade: A casa de vidro: A casa de vidro que ergui e habito não tem teto, nem porta, nem trinco. Nela assim pra acabar, só eu fico ou grito alguém, como no v...
quinta-feira, 23 de agosto de 2018
A casa de vidro
A casa de vidro que ergui e
habito
não tem teto, nem porta, nem trinco.
Nela assim pra acabar, só eu fico
ou grito alguém, como no vizinho.
Na casa de vidro que ergui e habito
se revira noite e dia, aos contratempos.
Suas paredes refletem amigos
e uma vala de posses e lamentos.
Sem telhas, o mundo lhe cai
violento.
Dela cedo se emigra iluminado,
tarde se chega em cruz e
sofrimento.
A casa conecta mas não se liga.
Suas paredes sem tinta me inibem
mas risco nelas a ponte que desvia.
quarta-feira, 8 de agosto de 2018
Marcos Agmar de Andrade: São ...
Marcos Agmar de Andrade: São ...: São Que nossos contratos sejam sãos ...
quarta-feira, 27 de junho de 2018
Carry me away
I don´t need your love
I don´t need your hate
Even when we dig into six under.
All the beings live alone in Earth
So whenever you turn your back on me
It´s a blaze of chance of being free.
I don´t care about your love
I don´t care about your hate
People are just supposed to mate
Things that are left ´nd
History that is passed
Scatter and fade away
I don´t bear your love
I don´t bear your hate
Amor na rede
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
(...)
In Odes de
Ricardo Reis, Ricardo Reis/Fernando Pessoa
(...)
Há hienas que fingem ser
leões
Tropeçando em suas
contradições
(...)
“Xangô”, Big Up
Dominar formas
de comunicação eletrônica é praticamente o letramento com que devemos nos
instruir hoje em dia. Na rede gigantesca de compartilhamentos que ela forma,
vale aqui aplicar um nó pequeno para delinear uma questão perene para o homem
em sociedade: o amor em tempos das chamadas “redes sociais”. As redes de
informação e comunicação atuais enfraquecem sua aura “social” a partir do
momento em que seus interlocutores sofrem com a tensão entre tradicionais
padrões de comportamento e conduta e a barbárie invasora anti-privacidade que a
nova tecnologia de comunicação veicula.
Ainda que ditas
”sociais”, as redes fazem revelar nos usuários da atualidade um individualismo
diverso daquele que os homens experimentaram pelo menos desde os primeiros
ruídos da chamada primeira revolução industrial, nos meados do século XVIII. A
partir desse inexato momento da história, vislumbrar e expor privacidades
passou a conferir o “barato” do fetiche a cada peça ou artefato supérfluo (re)produzido.
Apesar de supérfluo, sua aquisição sempre nos foi indispensável, já que eu não possuo aquilo idêntico que outrem
conquistou antes de mim. Do consumo desenfreado de folhetins a fotografias,
o costume perverteu hábitos consumistas e agigantou egos, alocando em prateleiras
toda particularidade da vida privada. No entanto, tudo isso não gera nas
consciências assim educadas as divergências internas e idiossincrasias de
comportamento que, hoje em dia, o choque com a liberdade transviada do acesso à
informação parece causar ao ethos de
quem tem parte de sua vida publicada nas redes.
O frenesi carni-canibalesco
do consumo acumulador em que acastelamos a identidade moderna usa como tijolos
retratos da vida privada. É um caminho que traça uma trajetória de mão dupla: a)
tenta reconstituir egos e valores cujos fundamentos já foram questionados no
processo da mercantilização do indivíduo e da vida social; b) descortina e folhetiniza
elementos dessa identidade que se revela múltipla, porém sob uma aparência
íntegra. Sendo assim, é com o aparato tecnológico do consumo da imagem que se
inicia a bipartição do “homus conectus”,
ora se mostrando ora se ocultando para uma audiência também inespecífica. Divisão
de tal forma desmanteladora de identidades que responde por idiossincrasias morais
e éticas. Tornou-se fácil migrar posturas e comportamentos entre o ambiente
“real” e o da rede de informação. Ou seja, eu posso ser um ícone da liberdade
de expressão em um, e o pior censor ou cerceador de opiniões noutro ambiente, e
vice-versa. Basta manejar convenientemente a chave I/O para a vida que
queiramos ativa dentro e/ou fora da rede. É um processo que se dá de forma
também não definidora e promíscua em relação ao conteúdo que se lança a
“navegar” na rede. Já que o que parte de mim nesses termos caracteriza-se
também pelo apelo à aparência para apetecer o consumo.
No mínimo desde
o perdão a um importante escândalo de adultério de um presidente estadunidense
no final do século passado já nos apercebemos que cumprir pactos contratuais da
“boa moral e honradez” é muitas vezes ignorado ou escamoteado por instâncias do
poder. Mormente acordos pertinentes ao foro íntimo. Até por questão de sobrevivência, ter conduta
flexível entre público e privado, - entre o que convém mostrar e o que não deve
ser revelado-, mostra-se cada vez mais validado em ambientes e situações de
enfrentamento a instituições tradicionais. Do burburinho de serviçais da Corte
à mídia forte da última virada de século, escândalos da vida privada e ética cada
vez mais não passam do que realmente são: falatório. E cada vez menos
determinam inflexão ou refreamento no processo de dicotomia moral de seus
atores.
Tornou-se
fácil e muitas vezes conveniente duplicar personalidades, pois intenções se
dividem e ambições pulverizam-se na confusão público-privado que a rede tecnológica
de comunicação veicula. Códigos que já mal lograram nortear rumos
institucionais desde a fragmentação romântica de nossa cultura são postas à
prova e parecem se subverter. Esquecemos demais. Emancipamo-nos às avessas. Não
que esses códigos tenham sido abandonados. Eles
sofrem profunda particularização e realocação no ambiente em que há
oportunidades mais plausíveis e propícias para eles funcionarem em tese. Ou seja, após o advento da
burocracia, passando pela imprensa de moda e costumes, a instância que valida meus
atos apenas teoricamente, e cada vez menos fora dela, é o ambiente das redes de
compartilhamento atuais.
Espécies de avatar
no ambiente que idealizamos portam uma integridade que apenas namoramos ou nem
chegamos a manifestar fisicamente. Salvo devidas proporções e objetivos, esse
grau de bipartição da imagem de nós pode remontar à edição literária.
Obviamente no caso dessa última, cabe à mediação
mercadológica do entretenimento catalisar a audiência para que ela apreenda obras
e personagens que os autores decantam. Como
exemplo, roteiros hollywoodianos retrabalham o tema romântico do amor em
situações de conexão aleatória entre indivíduos. Personagens têm suas trajetórias
dentro de padrões tradicionais questionadas ao se defrontarem com o amor.
O filme Sleepless in Seattle (1993, Sintonia de amor (BRA)) vem de uma
linhagem de adaptações cinematográficas que remonta a Love affair (1939). Esse com o já sugestivo título abrasileirado Duas Vidas. Respectivamente no filme
mais recente e no original dessa série, o encontro amoroso gerador do conflito
dá-se através da ausculta de um programa de rádio e em uma viagem de navio. Ao
longo da série de adaptações, compromissos pessoais e sociais são sobrepujados
para que vença a união amorosa dos protagonistas. Trata-se da instalação de
dilemas em que os personagens que representam indivíduos modernos a princípio
seguem normas ditadas socialmente e posteriormente as rechaçam para usufruírem
o amor como produto ideal, verdadeira panaceia dos males contra o
convencionalismo. Dá-se como os personagens a dicotomia de visões que é fator
de crise identitária representada de maneira recorrente na cultura de
entretenimento.
Com referências
tanto implícitas como citadas ao arquetípico Pride and Prejudice, icônico romance oitocentista da jovem
britânica Jane Austen, You’ve got mail (1998) é outro filme
icônico. Em ambos, um par de protagonistas revivem conflitos próprios aos
gêneros masculino e feminino a fim de que cedam ao amor. Intitulado Mensagem para Você (BRA), o contexto é a
euforia da incipiente conexão entre computadores. Para os fins do propósito de
nossa análise, nota-se que a dupla de protagonistas, por meio da edição de mensagens
eletrônicas que trocam, constrói perfis de gênero masculino e feminino
idealizados, aquém dos que exibem fora dos momentos de conexão eletrônica.
Em folhetins e
em comédias românticas, o conflito é abdicar de compromisso ou convicção
socialmente esperados -como casamento marcado- em nome de se vivenciar o amor
entre indivíduos que se cruzam no navegar moderno de encontros. E não é o
desfecho desses romances e sim o arcabouço realista o principal fator de
identificação com a audiência. Isso porque, nas obras acima citadas, por
exemplo, vemos atualizarem-se contextos e a extensão do sofrimento (suspense) para
que se capte audiência. Porém, os episódios de arroubos românticos felizes
permanecem. Ou seja, do enredo austeniano à reprise da sessão da tarde, sabe-se
de antemão que os heróis vencem e se unem. E o que me faz realmente igual a eles é apenas viver seu conflito antes do
desfecho.
Já para a
atualidade das redes, tanto a indeterminação de autorias de conteúdos, quanto o
apelo por representatividade de grupos acentuam certo grau de impessoalidade
que redimensionam o fenômeno da divisão de identidade dos usuários a extremos
transformadores da já inquietada personalidade moderna. Também diversa da
tradicional mídia de entretenimento, a rede social no momento prescinde da
“financeirização” dos conteúdos. Por isso, a ideologização que o entretenimento
tradicional carrega até mesmo antes de se estabelecer a cadeia de comunicação,
nas atuais postagens é conseguida a
posteriori, analisando-se e se categorizando
a massa de perfis, escolhas e relações que a faceta pública exibe nela. As
consequências da manipulação das técnicas comunicativas e da sondagem de
privacidade são ostensivamente vislumbradas em ficção científica, de George
Orwell em 1984 a Veronica Roth na
trilogia Divergent.
Como a tensão
do jogo a que se submetem as identidades off
e online é fator de crise, o que não
se vislumbra e nem se apreende facilmente é o quanto patinam no limiar da rede questões
institucionais e de gênero por exemplo. Eu posso ser homem, provedor e ético. Também
posso ser mulher, mantenedora e fugir a regras. Ou “só que não” para ambos.
Pois revoluções tecnológicas sucessivas e, agora, uma centelha de byte, me informam que há um mundo novo de conquistas, incluindo
dentro de mim, a se explorar. Ser duplo-facetado tendo a rede de
compartilhamentos como abalizadora atende as expectativas de códigos
discordantes que dividem a identidade do indivíduo.
Além disso,
meus gostos subvertem-se ao sabor da natureza do que me é apresentado como
referência e centro, esses por sua vez, também relativizados. As noções de ético-moral,
conveniente e belo, de tanto se ocultarem e se intercambiarem com seus opostos
tradicionais, transmutam-se rapidamente neles. Não necessariamente a falta de
amor, mas algo que seja o “anti-amor”, o “anti-ético” e o grotesco
estabelecem-se e demandam seu lugar ao sol luminoso dos novos canais de conexão
eletrônica. Dessa forma, o amor romântico como objeto de completude do indivíduo
no ambiente limiar da rede social torna-se objeto restrito quanto à sua função
agregadora do indivíduo, sendo retrabalhado ou substituído por outros fetiches.
A escrita do
século dezenove até meados de vinte traz gêneros em tensão em todas as esferas
na ficção que fruímos pelo ocidente. Ontologicamente, experimentaram-se os
extremos em termos de transmutação e partição na composição dos personagens
para mostrar a incongruência do indivíduo frente à cobrança por ajuste entre
anseios de completude- representados pelo amor romântico, por exemplo, - e a
sobrevivência no mundo quase devastado via fetichismo e competição materiais. Fizemos
papéis sexuais digladiarem-se em meio a se obter posição no mundo e o amor de
completude, traçamos sagas familiares homéricas que findaram no ser
experimentado e só ou inexoravelmente unido ao seu par de classes, e escavamos
entidades misteriosas e seres mitológicos que se humanizaram convertendo-se em
verdade da natureza. Nessa ficção de cerca de século e meio, estendemos o
retrato de nós às coisas e seres “de-aureolados” para que nos identificássemos
mediante um realismo que invariavelmente se concluía apenas no esboço do
indivíduo refeito.
O ser assim
representado nesse período também antecipava que a virada para este século
traria um indivíduo ainda mais cindido, refletido nos novos suportes da
tecnologia de comunicação. Após arranhar o real com personagens em romances e
melodramas, meamos o século passado aprofundando a crise de representação intensificando
a percepção de devires em todas as
formas de composição, inclusive na do sujeito virtualizado. A partir disso, projetamos
avatares em reinos de lordes e guerreiros em passados fictícios ou em dimensões
futurísticas na tentativa de resgatar um novo objeto, restabelecendo arranjos em
última análise familiares. Cada vez mais paralelamente, na ficção e na
realidade, desmantelam-se famílias tradicionais, separam-se filhos de pais,
refugiam-se povos e grupos politica e belicamente. Reinvindicações cotistas adicionaram-se às
meritocráticas também no ambiente amplificado da representação. O espectro das
identidades ganha mais nuances de visibilidade fortalecida pela popularização
do acesso aos meios mais velozes de comunicação e interatividade.
Pela estrutura
comunicacional de hoje, enviamos novos de nós dia-a-dia, cada vez mais ao toque
de caixa (literalmente no caso nacional) porque não podemos firmar planos, nem
nos alongarmos em tessituras muito complexas de um único ser. O aceleramento de
roteiros em nossas vidas dá-se devido à eminência de um futuro repleto de
incertezas de humores e políticas. Em parlatórios reais e virtuais, exigimos
correção de desmandos e descalabros políticos e sociais em fóruns. Judicialização
essa que também denota a crise das instituições mais tradicionais. O que se tem
feito no oculto, no privado, provoca. E clamamos por novos julgadores, pois
nossa percepção e juízo estão confusos. Por
outro lado, patrocinamos e consumimos com didatismo científico fetiches de
extremos físicos e de morbidade em realities
televisivos – a nova espécie de ficção. Neles fazemos de atores mais e mais contingentes
da exclusão da cultura democrática. Direito e Ciência comandam aspectos da vida
nos quais a interpretação da Política e da Arte se mostram míopes para explicar
novos objetos. A nova configuração de indivíduo reflete-se e pousa na rede de
comunicação, que logra ser parcamente “social”, posto que o diálogo entre seus
diversos atores não é multilateral.
A sociedade
física cobre-se com a rede eletrônica de comunicação repleta de verdadeiros nós
que representam milhões de indivíduos com egos já cindidos desde o início da
era moderna. A rede de compartilhamento veicula conteúdos que refletem anseios de
oferta e consumo de imagem dos indivíduos. No entanto, ela não prima ser
totalmente “social” no sentido lato do termo, uma vez que é estruturada na base
de uma comunicação bilateral entre seus interlocutores. O tráfego de informação
é marcado pelo limiar público-privado que é rompido e expõe o indivíduo em sua
dubiedade, tanto nas intenções quanto nas carências do “navegante”. Além disso,
tais redes como um todo são bastante manipuláveis do ponto de vista ideológico.
E à medida que elas se expandem tornam-se mantos de tessitura camaleônica, que
cobrem a sociedade do “próprio para a ocasião”. Mas o que fervilha nos porões
do íntimo de cada um nesse instante por
ora permanece devidamente encoberto.
quarta-feira, 23 de maio de 2018
FAZENDO MAL_A_BARES
Estar-se com quem se gosta
E não se querer que encoste
É o pior dos mal-estares.
É, de contemplar o céu,
perder a onda no swell
o triste surfista ao mar.
É não segurar o copo
No momento mais notório
o mestre dos 'mal-a-bares'.
É, pela desilusão,
ver passar a inspiração
e travar no ofício da arte.
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