segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Semanário (by Everlan Stutz)

Semanário

Hoje é domingo
Dia de repouso e reclusão
A vida não faz sentido
Apenas o gemido de domingo
À espera de uma segunda opção
A terça não me interessa
Ela divide opinião
Na quarta sou metade de mim
Quinta é quantidade ímpar
Na sexta vinga a exaltação
No sábado  vou à feira comprar quiabo
Não  sei que diabo inventou  esse semanário!
E no inferno já é feriado!
Pobre domingo
Nem nasceu, já  morreu
O domingo é  a pausa poética dos desiludidos!

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Eu já ia desistindo de mim sem eira
para só beirar e renascer daqui a duzentos anos,
quando reencontrasse:
o amor não confundido com posse,
a atenção não virada em surto,
e esperança não perdida na alienação.
Mas me reergui em nome dos poucos que:
prezam o amor no contato,
valorizam a visita na bebida,
e iniciam sua caminhada e comunhão de dentro,
e não do comando de outrem.

sábado, 6 de outubro de 2018

Eu socio-histórico
Na brasa da lida
Como vidro fico
Se joga estouro
Se cuida brilha
Se pisa corto

domingo, 26 de agosto de 2018

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

A casa de vidro


A casa de vidro que ergui e habito
não tem teto, nem porta, nem trinco.
Nela assim pra acabar, só eu fico
ou grito alguém, como no vizinho.

Na casa de vidro que ergui e habito
se revira noite e dia, aos contratempos.
Suas paredes refletem amigos
e uma vala de posses e lamentos.

Sem telhas, o mundo lhe cai violento.
Dela cedo se emigra iluminado,
tarde se chega em cruz e sofrimento.

A casa conecta mas não se liga.
Suas paredes sem tinta me inibem
mas risco nelas a ponte que desvia.

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Marcos Agmar de Andrade: São                                               ...

Marcos Agmar de Andrade: São                                               ...: São                                                                   Que nossos contratos sejam sãos                                      ...
São                                                                 
Que nossos contratos sejam sãos                                                       
sem palavras vãs                                                       
de embocadura                                                      
que em noites escuras                                                                
empinem pipas-luas                                                            
e por linhas duras                                                    
em serenos suem                                                                    
estenda em sua rede                                                         
fruto de nossa sede                                                           
que nascecomedorme                                                             
e falasentesua                                                       
nossas contraturas                                                 

quarta-feira, 27 de junho de 2018

Carry me away


I don´t need your love
I don´t need your hate
Even when we dig into six under.
All the beings live alone in Earth
So whenever you turn your back on me
It´s a blaze of chance of being free.

I don´t care about your love
I don´t care about your hate
People are just supposed to mate

Things that are left ´nd
History that is passed
Scatter and fade away
I don´t bear your love
I don´t bear your hate


Amor na rede



Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
(...)
 In Odes de Ricardo Reis, Ricardo Reis/Fernando Pessoa
(...)
Há hienas que fingem ser leões
Tropeçando em suas contradições
(...)
“Xangô”, Big Up


Dominar formas de comunicação eletrônica é praticamente o letramento com que devemos nos instruir hoje em dia. Na rede gigantesca de compartilhamentos que ela forma, vale aqui aplicar um nó pequeno para delinear uma questão perene para o homem em sociedade: o amor em tempos das chamadas “redes sociais”. As redes de informação e comunicação atuais enfraquecem sua aura “social” a partir do momento em que seus interlocutores sofrem com a tensão entre tradicionais padrões de comportamento e conduta e a barbárie invasora anti-privacidade que a nova tecnologia de comunicação veicula.
Ainda que ditas ”sociais”, as redes fazem revelar nos usuários da atualidade um individualismo diverso daquele que os homens experimentaram pelo menos desde os primeiros ruídos da chamada primeira revolução industrial, nos meados do século XVIII. A partir desse inexato momento da história, vislumbrar e expor privacidades passou a conferir o “barato” do fetiche a cada peça ou artefato supérfluo (re)produzido. Apesar de supérfluo, sua aquisição sempre nos foi indispensável, já que eu não possuo aquilo idêntico que outrem conquistou antes de mim. Do consumo desenfreado de folhetins a fotografias, o costume perverteu hábitos consumistas e agigantou egos, alocando em prateleiras toda particularidade da vida privada. No entanto, tudo isso não gera nas consciências assim educadas as divergências internas e idiossincrasias de comportamento que, hoje em dia, o choque com a liberdade transviada do acesso à informação parece causar ao ethos de quem tem parte de sua vida publicada nas redes.
O frenesi carni-canibalesco do consumo acumulador em que acastelamos a identidade moderna usa como tijolos retratos da vida privada. É um caminho que traça uma trajetória de mão dupla: a) tenta reconstituir egos e valores cujos fundamentos já foram questionados no processo da mercantilização do indivíduo e da vida social; b) descortina e folhetiniza elementos dessa identidade que se revela múltipla, porém sob uma aparência íntegra. Sendo assim, é com o aparato tecnológico do consumo da imagem que se inicia a bipartição do “homus conectus”, ora se mostrando ora se ocultando para uma audiência também inespecífica. Divisão de tal forma desmanteladora de identidades que responde por idiossincrasias morais e éticas. Tornou-se fácil migrar posturas e comportamentos entre o ambiente “real” e o da rede de informação. Ou seja, eu posso ser um ícone da liberdade de expressão em um, e o pior censor ou cerceador de opiniões noutro ambiente, e vice-versa. Basta manejar convenientemente a chave I/O para a vida que queiramos ativa dentro e/ou fora da rede. É um processo que se dá de forma também não definidora e promíscua em relação ao conteúdo que se lança a “navegar” na rede. Já que o que parte de mim nesses termos caracteriza-se também pelo apelo à aparência para apetecer o consumo.
No mínimo desde o perdão a um importante escândalo de adultério de um presidente estadunidense no final do século passado já nos apercebemos que cumprir pactos contratuais da “boa moral e honradez” é muitas vezes ignorado ou escamoteado por instâncias do poder. Mormente acordos pertinentes ao foro íntimo.  Até por questão de sobrevivência, ter conduta flexível entre público e privado, - entre o que convém mostrar e o que não deve ser revelado-, mostra-se cada vez mais validado em ambientes e situações de enfrentamento a instituições tradicionais. Do burburinho de serviçais da Corte à mídia forte da última virada de século, escândalos da vida privada e ética cada vez mais não passam do que realmente são: falatório. E cada vez menos determinam inflexão ou refreamento no processo de dicotomia moral de seus atores.
Tornou-se fácil e muitas vezes conveniente duplicar personalidades, pois intenções se dividem e ambições pulverizam-se na confusão público-privado que a rede tecnológica de comunicação veicula. Códigos que já mal lograram nortear rumos institucionais desde a fragmentação romântica de nossa cultura são postas à prova e parecem se subverter. Esquecemos demais. Emancipamo-nos às avessas. Não que esses códigos tenham sido abandonados.              Eles sofrem profunda particularização e realocação no ambiente em que há oportunidades mais plausíveis e propícias para eles funcionarem em tese. Ou seja, após o advento da burocracia, passando pela imprensa de moda e costumes, a instância que valida meus atos apenas teoricamente, e cada vez menos fora dela, é o ambiente das redes de compartilhamento atuais.
Espécies de avatar no ambiente que idealizamos portam uma integridade que apenas namoramos ou nem chegamos a manifestar fisicamente. Salvo devidas proporções e objetivos, esse grau de bipartição da imagem de nós pode remontar à edição literária. Obviamente no caso dessa última, cabe à mediação mercadológica do entretenimento catalisar a audiência para que ela apreenda obras e personagens que os autores decantam.  Como exemplo, roteiros hollywoodianos retrabalham o tema romântico do amor em situações de conexão aleatória entre indivíduos. Personagens têm suas trajetórias dentro de padrões tradicionais questionadas ao se defrontarem com o amor.
O filme Sleepless in Seattle (1993, Sintonia de amor (BRA)) vem de uma linhagem de adaptações cinematográficas que remonta a Love affair (1939). Esse com o já sugestivo título abrasileirado Duas Vidas. Respectivamente no filme mais recente e no original dessa série, o encontro amoroso gerador do conflito dá-se através da ausculta de um programa de rádio e em uma viagem de navio. Ao longo da série de adaptações, compromissos pessoais e sociais são sobrepujados para que vença a união amorosa dos protagonistas. Trata-se da instalação de dilemas em que os personagens que representam indivíduos modernos a princípio seguem normas ditadas socialmente e posteriormente as rechaçam para usufruírem o amor como produto ideal, verdadeira panaceia dos males contra o convencionalismo. Dá-se como os personagens a dicotomia de visões que é fator de crise identitária representada de maneira recorrente na cultura de entretenimento.
Com referências tanto implícitas como citadas ao arquetípico Pride and Prejudice, icônico romance oitocentista da jovem britânica Jane Austen,  You’ve got mail (1998) é outro filme icônico. Em ambos, um par de protagonistas revivem conflitos próprios aos gêneros masculino e feminino a fim de que cedam ao amor. Intitulado Mensagem para Você (BRA), o contexto é a euforia da incipiente conexão entre computadores. Para os fins do propósito de nossa análise, nota-se que a dupla de protagonistas, por meio da edição de mensagens eletrônicas que trocam, constrói perfis de gênero masculino e feminino idealizados, aquém dos que exibem fora dos momentos de conexão eletrônica.
Em folhetins e em comédias românticas, o conflito é abdicar de compromisso ou convicção socialmente esperados -como casamento marcado- em nome de se vivenciar o amor entre indivíduos que se cruzam no navegar moderno de encontros. E não é o desfecho desses romances e sim o arcabouço realista o principal fator de identificação com a audiência. Isso porque, nas obras acima citadas, por exemplo, vemos atualizarem-se contextos e a extensão do sofrimento (suspense) para que se capte audiência. Porém, os episódios de arroubos românticos felizes permanecem. Ou seja, do enredo austeniano à reprise da sessão da tarde, sabe-se de antemão que os heróis vencem e se unem. E o que me faz realmente igual a eles é apenas viver seu conflito antes do desfecho.
Já para a atualidade das redes, tanto a indeterminação de autorias de conteúdos, quanto o apelo por representatividade de grupos acentuam certo grau de impessoalidade que redimensionam o fenômeno da divisão de identidade dos usuários a extremos transformadores da já inquietada personalidade moderna. Também diversa da tradicional mídia de entretenimento, a rede social no momento prescinde da “financeirização” dos conteúdos. Por isso, a ideologização que o entretenimento tradicional carrega até mesmo antes de se estabelecer a cadeia de comunicação, nas atuais postagens é conseguida a posteriori, analisando-se e se categorizando a massa de perfis, escolhas e relações que a faceta pública exibe nela. As consequências da manipulação das técnicas comunicativas e da sondagem de privacidade são ostensivamente vislumbradas em ficção científica, de George Orwell em 1984 a Veronica Roth na trilogia Divergent.
Como a tensão do jogo a que se submetem as identidades off e online é fator de crise, o que não se vislumbra e nem se apreende facilmente é o quanto patinam no limiar da rede questões institucionais e de gênero por exemplo. Eu posso ser homem, provedor e ético. Também posso ser mulher, mantenedora e fugir a regras. Ou “só que não” para ambos. Pois revoluções tecnológicas sucessivas e, agora, uma centelha de byte, me informam que há um mundo novo de conquistas, incluindo dentro de mim, a se explorar. Ser duplo-facetado tendo a rede de compartilhamentos como abalizadora atende as expectativas de códigos discordantes que dividem a identidade do indivíduo.
Além disso, meus gostos subvertem-se ao sabor da natureza do que me é apresentado como referência e centro, esses por sua vez, também relativizados. As noções de ético-moral, conveniente e belo, de tanto se ocultarem e se intercambiarem com seus opostos tradicionais, transmutam-se rapidamente neles. Não necessariamente a falta de amor, mas algo que seja o “anti-amor”, o “anti-ético” e o grotesco estabelecem-se e demandam seu lugar ao sol luminoso dos novos canais de conexão eletrônica. Dessa forma, o amor romântico como objeto de completude do indivíduo no ambiente limiar da rede social torna-se objeto restrito quanto à sua função agregadora do indivíduo, sendo retrabalhado ou substituído por outros fetiches.
A escrita do século dezenove até meados de vinte traz gêneros em tensão em todas as esferas na ficção que fruímos pelo ocidente. Ontologicamente, experimentaram-se os extremos em termos de transmutação e partição na composição dos personagens para mostrar a incongruência do indivíduo frente à cobrança por ajuste entre anseios de completude- representados pelo amor romântico, por exemplo, - e a sobrevivência no mundo quase devastado via fetichismo e competição materiais. Fizemos papéis sexuais digladiarem-se em meio a se obter posição no mundo e o amor de completude, traçamos sagas familiares homéricas que findaram no ser experimentado e só ou inexoravelmente unido ao seu par de classes, e escavamos entidades misteriosas e seres mitológicos que se humanizaram convertendo-se em verdade da natureza. Nessa ficção de cerca de século e meio, estendemos o retrato de nós às coisas e seres “de-aureolados” para que nos identificássemos mediante um realismo que invariavelmente se concluía apenas no esboço do indivíduo refeito.
O ser assim representado nesse período também antecipava que a virada para este século traria um indivíduo ainda mais cindido, refletido nos novos suportes da tecnologia de comunicação. Após arranhar o real com personagens em romances e melodramas, meamos o século passado aprofundando a crise de representação intensificando a percepção de devires em todas as formas de composição, inclusive na do sujeito virtualizado. A partir disso, projetamos avatares em reinos de lordes e guerreiros em passados fictícios ou em dimensões futurísticas na tentativa de resgatar um novo objeto, restabelecendo arranjos em última análise familiares. Cada vez mais paralelamente, na ficção e na realidade, desmantelam-se famílias tradicionais, separam-se filhos de pais, refugiam-se povos e grupos politica e belicamente.  Reinvindicações cotistas adicionaram-se às meritocráticas também no ambiente amplificado da representação. O espectro das identidades ganha mais nuances de visibilidade fortalecida pela popularização do acesso aos meios mais velozes de comunicação e interatividade.
Pela estrutura comunicacional de hoje, enviamos novos de nós dia-a-dia, cada vez mais ao toque de caixa (literalmente no caso nacional) porque não podemos firmar planos, nem nos alongarmos em tessituras muito complexas de um único ser. O aceleramento de roteiros em nossas vidas dá-se devido à eminência de um futuro repleto de incertezas de humores e políticas. Em parlatórios reais e virtuais, exigimos correção de desmandos e descalabros políticos e sociais em fóruns. Judicialização essa que também denota a crise das instituições mais tradicionais. O que se tem feito no oculto, no privado, provoca. E clamamos por novos julgadores, pois nossa percepção e juízo estão confusos.  Por outro lado, patrocinamos e consumimos com didatismo científico fetiches de extremos físicos e de morbidade em realities televisivos – a nova espécie de ficção. Neles fazemos de atores mais e mais contingentes da exclusão da cultura democrática. Direito e Ciência comandam aspectos da vida nos quais a interpretação da Política e da Arte se mostram míopes para explicar novos objetos. A nova configuração de indivíduo reflete-se e pousa na rede de comunicação, que logra ser parcamente “social”, posto que o diálogo entre seus diversos atores não é multilateral.
A sociedade física cobre-se com a rede eletrônica de comunicação repleta de verdadeiros nós que representam milhões de indivíduos com egos já cindidos desde o início da era moderna. A rede de compartilhamento veicula conteúdos que refletem anseios de oferta e consumo de imagem dos indivíduos. No entanto, ela não prima ser totalmente “social” no sentido lato do termo, uma vez que é estruturada na base de uma comunicação bilateral entre seus interlocutores. O tráfego de informação é marcado pelo limiar público-privado que é rompido e expõe o indivíduo em sua dubiedade, tanto nas intenções quanto nas carências do “navegante”. Além disso, tais redes como um todo são bastante manipuláveis do ponto de vista ideológico. E à medida que elas se expandem tornam-se mantos de tessitura camaleônica, que cobrem a sociedade do “próprio para a ocasião”. Mas o que fervilha nos porões do íntimo de cada um nesse instante por ora permanece devidamente encoberto.

quarta-feira, 23 de maio de 2018


FAZENDO MAL_A_BARES

Estar-se com quem se gosta
E não se querer que encoste
É o pior dos mal-estares.

É, de contemplar o céu,
perder a onda no swell
o triste surfista ao mar.

É não segurar o copo
No momento mais notório
o mestre dos 'mal-a-bares'.

É, pela desilusão,
ver passar a inspiração
e travar no ofício da arte.