domingo, 21 de julho de 2019

Moderno

Há uma linha que divide o olhar na aurora
e um chão que se despedaça.
Ambos repletos de corpos expostos
desde um moço amanhecer.

Há um _fogo morto_ vivo de luz,
frio de ideias.
Ele foi ateado a um tempo
modulado em dinamismos,
envelhecido nos resultados.

Alcanço veias de reativação,
contorno vórtices celestes.
Mas não chego a mim uno,
não reviro minhas estruturas de colapso.

Mordo essa corda longa a mim atada,
e me corto profundamente nos elos
com os muitos que se penduram ao meu lado.

terça-feira, 16 de julho de 2019

Tic-tecs

Tic- tecs
(a São Bernardo , 
Graciliano Ramos)


(I)


Nunca mais ouvi relógios.
Digitalizo meu tempo
E um painel de cores fortes
Enche a vida de contingências.

Posto uma imagem ligeira
presa ao momento do flash.
E sem culpar as estrelas,
a alma é lavada no viés.

É o cordão novo sem nó
sem rastro nem lastro a
aumentar filas de sós,
de ligados sem contato.

Mas rebelei cliques, telas.
E desafiei o virtual
a baixar secreta ideia:
recriar meu tempo-lugar.

(II)

Compartilho meu destino
de visadas e discursos
que menos dizem de mim,
e mais me cismam ao mundo.

Novos lumes e ritmias
espalham numa saleta
os concertos luzidios
às marchas de uma ampulheta.

A mão sinaliza a voz,
ponho-me todo a pulsar.
Vibro no coração das prosas
rugindo à cidade e ao mar.

Reúno magia e matéria,
dedilho a fala, entoo o corpo
na rede a contar tic-tecs
desse algo-ritmo de um povo.